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Lançamento | Cidade Dormitório: Fraternidade-Terror

Foto Divulgação Por Hemilly Souza

Fraternidade-Terror” é o nome do primeiro álbum do trio sergipano Cidade Dormitório. Depois do excelente EP “Esperando o Pior” (2017), o grupo foi ganhando espaço no cenário brasileiro e fez também uma turnê pelo sudeste e sul, trazendo seu som pós-punk psicodélico pra cá.

Desde 2015 juntos, conseguiram mostrar uma grande evolução, e este novo trabalho nos brinda com uma sonoridade incrível e cativante.

Uma imersão profunda ao psicodelismo alucinógeno por guitarras distorcidas, sintetizadores nas vozes, viagens ao passado com esse toque setentista que não deixa de ser “pra frentex”.

Tudo também parece uma experimentação livre, uma jam session sem rodeios, viva, que flutua entre diversos estilos e mescla toda a experiência da banda com rock alternativo, guitarras de pós-punk e os efeitos industriais para representar e refletir as contradições do Brasil de 2019.

As letras retratam algo obscuro, do antro dos sentimentos humanos. Superficialmente parece ser apenas o amor, o romance que nunca dá certo.

Mas vão além, além até mesmo do que conseguimos compreender, coisas que apenas as mentes inquietas dos jovens tristes conseguem produzir e reproduzir em músicas.

Mística glamour glam metal nos parques boreais caucasianos vivendo bem sem mim…” (Bad Sem Fim)

Capa do Disco por Emanuelle Alencar

Fraternidade-Terror” é um nome que se inscreve também através das guitarras e pratos que tentam ser mais raivosos numa estridência que nos pareceu necessária a se retratar em certos momentos e que aglutina a ironia de uma liberdade guiada para catástrofes. A fraternité atravessada pelo que está colocado aos nossos olhos, pelas nossas percepções e pelo o que nos atravessa. Do mais íntimo suspiro aos passos ofegantes de alguém por aí”, revela o grupo.

Dois singles haviam sido liberados previamente: “Relacionamentos São Extremamente Complicados e Meu Cachorro Sabe Disso” e “Homo Erectus Plus”, quarta faixa do trabalho que conta com a participação de lllucas e traz no título o humano moderno e suas telas que cabem na palma da mão – apenas para sucumbir ao peso dos muitos gigas de retrocesso em suas costas.

Yves Deluc (guitarra e voz), Lauro Francis (baixo) e Fabio Aricawa (bateria e voz) fizeram um trabalho consistente, conseguindo representar muito bem a melancolia individual do ser através de uma sonoridade do passado, mas também pós-moderna.

Pode até parecer contraditório, mas a música em si nunca precisa seguir uma linha, fazer sentido, seu único dever é não ter dever algum, somente se expressando de forma livre pela atmosfera.

“Vivenciamos dramas, romances que intensificam os nossos afetos e nos chacoalham diante de relações sociais que nos dão certeza de que a vida é sim uma doideira. Para além disso, as paixões se acompanham dos registros cotidianos que flagramos, para além delas mesmas, por aí. Esperamos que as percepções possam estar com tons menos felpudos de shoppings limpos e esterilizados e mais ásperos, porque a vida tem suas asperezas e contrastes, assim como as paredes e paisagens diferenciadas num centro da cidade podem lhe proporcionar à vista e ao tato”, analisa a banda. 

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Confira o Faixa a Faixa do disco escrito pelo guitarrista Yves Deluc:

“Cinto que aperta e essa fivela me machuca”

Atenta a momentos que nunca existiram no plano íntimo vivido do eu, mas que são plenos e conhecidos no subjetivo do sistema, nas brechas entre sociabilidades. 

“Besa (Beijos)”

Demonstra a insuficiência do eu diante do outro no lócus de uma relação, no andar da situação isto muda ao outro estender a mão trazendo segurança, os sentimentos fortalecem os atores sociais nos percalços de um mundo de valorações arbitrárias. 

“Homo Erectus Plus”

Brinca em tons frios ao visualizar o sujeito moderno, de celular com a mais alta tecnologia em mãos, mas com um retrocesso de muitíssimos gigas sobre suas costas. A modernidade não parece fazer evoluir outra coisa a não ser o drama de ser alguém. 

“Relacionamentos são extremamente complicados e meu cachorro sabe disso”

Põe as relações amorosas na modernidade em xeque de forma cômica, não precisa-se falar de Bauman direta e profundamente para perceber o quão complicado isto aqui está sendo, até o cachorro sabe… 

“Aribé II (Associação livre)”

Age provocativa aos bem encaixados e ritmados versos de planejamentos chicletes sabor amônia da indústria cultural. Não é esse o fator principal, mas a literal associação livre em versos cuspidos cochicham o que é estranho, passeando entre seres, comportamentos e crises na sociabilidade. 

“Bad sem fim”

Nega a si, mas não totalmente. Um fim de relacionamento prende pés na porta dos fundos, é entre o que deve ou não ser feito que esta canção se encontra, uma canção de término. Inspirada em Daniel Johnston, ela acaba por se tornar uma pequena homenagem. 

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