
“Histórias da Minha Área” é o nome do novo disco do rapper Djonga. Este é o 4º disco da carreira, um após o outro, ano após ano, Djonga vai mostrando todo seu talento e com certeza já garantiu seu nome na história do rap brasileiro. A cada novo álbum temos uma ansiedade, mas já sabemos que sempre será algo muito bom, e novamente ele apresenta um trampo fino, concreto e de muita qualidade.
Nessa nova trajetória somos inseridos um pouco mais no caminho percorrido pelo músico desde quando era muleke até o sucesso de hoje. Os fatos apresentados (que podem ser muito verídicos ou não) podem ser as histórias de qualquer jovem preto da periferia.
Não é algo raso, tem maior profundidade de contexto histórico, de localidade e tudo que envolve a vida dura e todas as privações que atingem grande parte da população brasileira, que é majoritariamente preta e pobre.
Em cada música é possível fazer uma análise profunda nos campos da sociologia e antropologia e até servir de objeto de estudos acadêmicos, porém isso deixamos apenas para os especialistas.

“Histórias da Minha Área” é uma ode à amizade. Os caras da antiga que corriam juntos, os manos que se foram cedo demais por N motivos, mas que fizeram falta e, hoje, não estão juntos para colher os louros. Vidas retiradas abruptamente, vítimas das oportunidades que nunca chegaram, e que talvez nunca chegariam.
O retrato do falido sistema estrutural que perdura a séculos moendo existências que poderiam ser essenciais para a construção de uma justiça social, ironicamente, justa.
“Se cada um é um universo
Quem salva uma vida salva um mundo inteiro” (Oto Patamá – Djonga)
“Sistema moedor de carne preta” pode muito bem ser substituído por apenas uma palavra figuradamente sinônima: Polícia.
Todo o tempo, o tempo todo. De todos os lados, estão sempre perdidos. O que nunca se perdem são as balas perdidas, que sempre encontram “Jenifers, Kauãs e Ágathas”. “Hoje Não” é uma das músicas mais pesada do disco. Djonga retrata a abordagem racista dos policiais quando veem um preto num carro de luxo, na maioria dos casos o carro nem precisa ser de luxo.
Assista ao clipe de “Hoje Não” – Djonga
Além da crítica fortemente explícita, a música ainda mostra a autoestima que Djonga aprendeu a ter. Não é de hoje que já vi muita gente falando sobre essa autoestima e a autointitulação de “Deus”. Pros racistas isso realmente vai incomodar, mas isso tem uma representatividade significativamente essencial, principalmente, para a juventude preta.
“Histórias da Minha Área” também aborda outros aspectos da vida, como o amor, o sexo, o flerte. Como na “acústica”, descontraída e dançante canção “Mania” (com a participação de MC Don Juan) e no beat mais marcante de “Procuro Alguém.”
Fechando essa trajetória de 10 faixas, Djonga apresenta “Amr Sinto Falta da Nssa Ksa”, um retrato sobre chegar onde queria chegar. Sobre como as coisas mudaram, sobre como as pessoas mudaram com ele e toda a babação de ovo que vem com o sucesso, mas lembrando sempre que o que importa está em casa.

Como o disco fala muito de amizade, mais uma vez Djonga contou com os amigos para ajudar nesse trampo foda. Coyote Beatz, parceiro e irmão de longa data, produziu 9 faixas do álbum, e Renan Samam assinou a produção de “Amr Sinto Falta da Nssa Ksa”.
As mina também marcaram presença na colaboração do disco: Bia Nogueira aparece logo na abertura do trampo na música “O Cara de Óculos” e Cristal na canção “Deus Dará”. Finalizando, NGC Borges e FBC também mandam suas rimas no disco, no som “Gelo”.
“Histórias da Minha Área” é para ouvir aos poucos, digerir aos poucos, tentar entender aos poucos. É um retrato da trajetória de um sonho, com os percalços, mas com as amizades sempre ao lado.
“Wow, sempre sonhei em ser jogador
Hoje em dia o pai só dá show em estádio lotado
Destaque do campeonato, sempre marcando gol
Ainda que sempre marcado
Nós aprendeu a dividir quando não tinha nada
Não vai sofrer pra dividir agora que tem tudo” (Gelo – Djonga)
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Ouça o Disco:
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