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Lançamento | Obinrin Trio: Origem

“Origem” é o nome do primeiro disco de estúdio da Obinrin Trio, e é necessário. É sobre como devemos ouvir e refletir sobre as estâncias da nossa terra. Repensar a natureza, repensar a estrutura política e patriarcal e o confronto de tudo o que não está certo.
Foto Divulgação por Juh Almeida.

Origem” é o nome do primeiro disco de estúdio da Obinrin Trio.

Origem. Substantivo feminino.

Início de uma ação ou de algo cujo desenvolvimento continua num tempo ou espaço; ponto de partida.

Lugar em que uma pessoa nasce.

Geração que antecede uma pessoa ou família; ascendência.

As definições que o dicionário apresenta para a palavra origem nos mostra que a escolha do nome do álbum foi perfeita.

Início.

O pontapé, o começo da jornada pelos caminhos da mata, da terra, a nossa terra. O canto “Agô” (primeira faixa do disco) abre tudo com força. É o pedido de licença para iniciar os trabalhos.

Na floresta, a busca pelo guerreiro da proteção da fauna e da flora, visitando cantorias da música popular brasileira.

Foto Divulgação / Instagram @obinrintrio

Lugar.

Da mata para a metrópole.

Cidade Dorme”, a terceira canção, com participação de Jadsa Castro e do mestre Kiko Dinucci, é um retrato do momento atual.

Na verdade se inserirmos essa música no contexto de qualquer década ou século passado ela, infelizmente, fará sentido.

O poder, os mesmos no poder. Enquanto a cidade dorme as coisas ruins acontecem, nós consentimos, sempre e sempre, pode até parecer que não, mas consentimos.

Mas como a música diz: “Mas hoje eu grito, hoje o canto ecoa, mais um dia resisto, mais um dia revolto, mais um dia insisto. Que só da nossa mão, nascerá: revolução.”

Aquele Gingado” foi um dos singles lançados em 2019 e também nos coloca em um lugar. Mas desta vez ele se chama acalanto.

Não apenas por toda a sonoridade envolvente da canção, mas pelo afeto que ela dita, sobre amar e desejar reviver as boas sensações que deixam nosso coração quentinho, o viver ao lado.

Ouça a canção Aquele Gingado

Geração.

Tudo que veio antes. Toda a luta, suor e sangue. Séculos lutando e séculos perdendo. Mas não mais!

Antes Elza Soares cantava “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, hoje canta “A carne mais barata do mercado não tá mais de graça, o que não valia nada agora vale uma tonelada”.

Solidão Vira Revolta”, canção que ajudou a projetar a Obinrin Trio, é mais um retrato do racismo estrutural encravado no país.

Toda a revolta de mais um preto favelado assassinado sem motivo, como tantos outros. Mas como tantos outros têm nome, endereço, família, mãe. Mas pros fardados repulsivos isso não faz diferença nenhuma.

Assista ao clipe de Solidão Vira Revolta

O momento atual de isolamento causa percepções diferentes em cada um. E nesse momento cada obra pode ser lida de uma maneira única.

“Nunca imaginamos que passaríamos por uma situação como essa, de uma quarentena causada por uma pandemia, muito menos lançar nosso primeiro disco neste período”, comentam as musicistas. “Mesmo com esse imprevisto, uma crise e o caos mundial, e sabendo dos efeitos emocionais de tudo isso nas pessoas, decidimos continuar com o lançamento.

Acreditamos na potência que o disco tem de nos transportar para outras sensações e lugares não físicos, de conseguir sentir a água, por exemplo, sem ir à praia ou rio. É um disco que oferece conexão com a terra e seus elementos e nossa vontade é que a nossa música seja um lugar de identificação para as pessoas e uma forma de carinho e afeto nesses dias difíceis”, refletem Raíssa Lopes, Lana Lopes e Elis Menezes.

O Projeto do Disco

O disco “Origem” veio da experiência de palco. Foram mais de 200 shows pelo Brasil desde o início do grupo, há mais ou menos 4 anos atrás.

Sem medo de dar a cara a tapa para produzir um trabalho cheio de significado, a Obinrin Trio contou com recursos gerados por um financiamento coletivo e a parceria com o Estúdio Veredas de São Paulo.

O trio comandou a direção artística e a idealização de tudo, mas contou com um timaço para fortalecer todo o projeto. Iran Ribas, Juliana Strassacapa e Rafael Gomes da Silva fizeram a produção musical, e a mixagem e masterização ficaram com o Estúdio Veredas.

Capa do Disco por Rebeca Canhestro / Projeto gráfico por Vini Albernaz (Musa Híbrida)

As participações especiais me deixaram boquiaberto, só gente talentosíssima: Eva Figueiredo, Marina Beraldo, Lari Eva, Josyara, Jadsa, Kiko Dinucci, Ju Strassacapa, Catarina Rossi, Fê Koppe, Domi Vieira, Rafael Gomes, Lena Papini, Bia Ferreira, Nã Maranhão e Dessa Brandão.

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Lembro-me bem das palavras que a Obinrin Trio usou para o vídeo do financiamento coletivo:

“Obinrin é corpo, abraço, história, voz. Obinrin é movimento, é potência, é mulher, coragem e o que dá nome ao nosso encontro”.

Em síntese é isso. É o corpo que se doa pela sua causa. É o abraço nas palavras de carinho e no reconforto da dor. É a história dos antepassados. É a voz, a palavra que ecoa de geração a geração. É o movimento não apenas da dança, da arte, mas também o movimento pela luta. É a potência, o vigor, a perseverança. É a mulher, a batalha, a resistência. É a coragem de estar sempre em pé mesmo após cair várias vezes frente ao oponente.

Origem” é necessário. Sobre como devemos ouvir e refletir sobre as estâncias da nossa terra. Repensar a natureza, repensar a estrutura política e patriarcal e o confronto de tudo o que não está certo.

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Encontre o Trio:

Ouça o Disco:

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