
“Oye Mujer” é o nome do segundo disco do grupo LADAMA, formado 100% por mulheres nascidas na América.
O mistério que rodeava o novo disco me deixava intrigado, preferi não procurar muito a fundo antes do lançamento, queria ser surpreendido. “Misterio”, canção de abertura do álbum, já me fez me mexer instantaneamente nos primeiros acordes, um ACORDE!, que o que vem pela frente também não vai te deixar parado.
Me senti envolvido, rodeado de ritmo, sensualidade (apesar das letras fortes) que se formaram através de notas, melodias, percussões e transpiração. Para fazer um trabalho tão completo, com certeza foi preciso suar. Soar harmonioso, penetrante, animado, melódico, consonante.
Quando mulheres se juntam para fazer música dificilmente sairá algo menos que a excelência. É muita coisa envolvida além de conhecimento técnico e talento. É vida, víscera, coração, alma, sangue, luta, resistência. Isso tudo está por trás das canções de “Oye Mujer”.
Assista ao clipe da canção “Nobreza”
Todas cantam, todas tem sua voz como instrumento de mudança, de esperança, de transformação. Um trabalho de tamanho continental, como o talento de cada uma delas.
Mafer Bandola (voz/bandola llanera – Venezuela), Lara Klaus (voz/bateria e percussão – Brasil), Daniela Serna (voz/tambor alegre – Colômbia) e Sara Lucas (voz/guitarra – EUA) são as vozes da América. A América explorada, a América excluída, queimada, deixada ao relento.
No disco, a LADAMA canaliza a força da mulher diante de crises globais, destruição ambiental sem precedentes e políticas de imigração injustas, se dedicando a uma narrativa que destaca a experiência humana em meio a grandes catástrofes, como os blecautes venezuelanos de 2019 e o colapso de barragens de 2019 em Brumadinho, Brasil.
O Disco

Lançado pela Six Degrees Records, “Oye Mujer” foi produzido pelas quatro damas Mafer, Lara, Daniela e Sara, juntamente com o colaborador musical de longa data Pat Swoboda, de Nova York, e o renomado produtor brasileiro Kassin (Jorge Ben, Bebel Gilberto, Caetano Veloso).
A arte do álbum, assinada por Daniel Acosta, descreve a queima caótica da terra e seus recursos naturais, renascimento, e aponta que todas as pessoas estão conectadas por um inconsciente coletivo e fazem parte da mesma comunidade.
Explorando sons, instrumentos e temas nem sempre abordados em canções, “Oye Mujer” exala e transparece sentimentos, revoltas, amores e esperanças de mulheres nascidas na América, e que pelo bem da América lutam e levantam sua voz numa manifestação por respeito e igualdade, tanto das mulheres como da terra.
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Confira o Faixa a Faixa do Disco:
1 – OYE MUJER abre com o Misterio, com influências dos ritmos samba reggae, reggaeton e bolero e se trata de uma ode ao empoderamento sexual feminino. LADAMA denuncia a vergonha do corpo das mulheres e sua sexualidade e proclama “o prazer é feminista“.
2 – Na percussiva Nobreza, influenciada pelo ijexá afro-brasileiro e ritmos de Cabo Verde, Lara Klaus canta em português sobre os conflitos da classe trabalhadora no Brasil. Ela canta: “Haja fé e saúde pra ganhar pão. Haja força e coragem para o coração“. A música, composta em parceria com o músico e produtor Kiko Klaus, traz também os músicos pernambucanos Spok, no saxofone, e Lucas dos Prazeres, na percussão, como convidados especiais.
3 – Underground celebra as raízes dos anos 70 e 80 em Nova York, com influências punk, afro-latina e disco. Sara Lucas destaca a disparidade de desigualdade entre as classes.
4 – Em Inmigrante, Mafer Bandola celebra com mensagem esperançosa de que os imigrantes mantenham a cabeça erguida e sejam corajosos. “Soy Inmigrante, valiente, caminante“.
5 – Tierra Tiembla é uma ode à Mãe Terra na forma de uma ranchera clássica. A voz de Lucas se eleva acima do sentimento de que, se a terra treme e queima, o sangue em nossos corpos derrete enquanto as montanhas desmoronam.

6 – Maria é um chamado para mulheres de todo o mundo, com versos que apresentam grandes nomes da música venezuelana, a cantora Betsayda Machado e o grupo vocal Mesticanto, além de versos cantados por Sara Lucas e Mafer Bandola. A faixa é uma música de protesto que chama a atenção para os blecautes na Venezuela em 2019. Consequentemente, Machado e Mesticanto gravaram suas partes no estúdio sob condições extremamente árduas durante os apagões com cortes intermitentes no acesso à eletricidade e à Internet. A canção posiciona de forma comovedora o grupo LADAMA lutando por serviços básicos a serem prestados às pessoas mais necessitadas, com base em notícias de uma mãe andando pelas ruas com a filha morta nos braços. Maria termina triunfantemente com o requintado coral de vocalistas apaixonadamente cantando: “Maria tem a sua liberdade, Maria tem a sua alma, Maria é a sua própria mátria“.
7 – Um grito de guerra liderado por guitarras distorcidas e bateria rock’n’roll que se fundem em um ritmo joropo-trap/cumbia, Mar Rojo é para a geração Latinx. Enquanto as religiões posicionam as mulheres como seres sagrados, LADAMA retrata uma imagem diferente. As mulheres, a comunidade LGBTQIA+ e outras pessoas marginalizadas devem ter intuição para se protegerem dos males do mundo. O medo deve ser extinto com os movimentos feministas, em um esforço para que os ideais das mulheres prevaleçam.
8 – As comunidades da América do Sul estão progressivamente adotando o feminismo e as táticas para se defenderem da opressão. Cada Uno defende a manifestação de idéias revolucionárias para aumentar a unidade coletiva. Defender o que você acredita é um veículo vital para a mudança social. Daniela Serna canta: “Cada um de nós somos a expressão do todo“.
9 – Em Haverá De Ser, Lara Klaus fala sobre a tragédia do colapso da barragem de Brumadinho, Brasil, em 2019. Alternando versos e refrão em português e inglês (cantado por Lucas), Klaus chama a atenção para o fato de que, enquanto nos envolvemos nas atividades cotidianas, o mundo ao nosso redor pode desabar. Nesse caso, um desastre de barragem provocado que causou a morte evitável de mais de 250 pessoas. A faixa termina com um sentimento edificante; mesmo apesar dessa tragédia horrível, ainda resta grande esperança na humanidade.

10 – OYE MUJER termina com Solar Wind, na qual Lucas canta em inglês, acompanhada das outras “DAMAS” que cantam em espanhol, sobre a linha de baixo de Swoboda. A canção progride para uma harmonia de três partes relacionando nossa conexão com o universo. Lucas canta: “Nasci da explosão do cometa mais brilhante do céu, resisto apenas o suficiente para direcionar os planetas… Despertar e voar, resistir e guiar, o suficiente para andar no espaço sideral“.
Reimaginando ritmos sul-americanos e caribenhos como ijexá, fandango, merengue dominicano, cumbia, quitipla e samba, e misturando-os com soul, R&B e pop, LADAMA cria uma estética sonora incrivelmente original. Juntas, as quatro artistas fundem a tradicional bandola llanera da Venezuela, o tambor alegre da Colômbia e a percussão do Nordeste do Brasil com sons eletrônicos, guitarra elétrica e novos instrumentos na sonoridade do grupo como cavaquinho, ilú e o baixo sintetizador de Swoboda, entre outros. OYE MUJER é o próximo capítulo de uma carreira já vibrante, educando jovens e inspirando públicos em todo o mundo.
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