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Resenha – Álbum | Tagua Tagua: Inteiro Metade

Se fossemos colocar “Inteiro Metade” em um prisma, é como se ele recebesse as tonalidades do psicodélico com synthpop, mas fosse capaz de se decompor em várias frequências, pois bebe de fontes como a música popular brasileira, samba, soul e toda a bagagem deste músico único e incrível.
Foto Divulgação por Guillermo Calvin

Inteiro Metade” é o nome do primeiro disco de Tagua Tagua, projeto do músico, cantor, compositor e produtor gaúcho Felipe Puperi.

Antes de falar qualquer outra coisa sobre o disco, quero destacar algo. Eu nunca fui muito ligado e também não tenho grande conhecimento sobre produção, e geralmente não levo isso em consideração quando vou falar de algum disco.

Mesmo não sendo a minha praia, confesso que fiquei espantado com a qualidade “Inteiro Metade”, produção primorosa, a masterização nem se fala. Tudo se salta nesse disco, os acordes da guitarra, as linhas de baixo então nossa, que perfeição.

Este era um disco que eu aguardei muito, na verdade até faz alguns anos. Conheci Tagua Tagua através de uma amiga que me indicou “Tombamento Inevitável” (primeiro EP do artista) lá por 2018. E desde então eu sou apaixonado pelo excelente trabalho que o artista vem fazendo nos últimos anos.

Quando você chega em “Inteiro Metade” você já é abseduzido pela sonoridade que se constrói logo na primeira canção. E vai ficando cada vez mais envolvido com as camadas que vão se formando na base e no front das músicas, são melodias que percorrem nossos ouvidos e nos tomam por inteiro, pois metade é só no nome do disco.

Parafraseando a canção “Mesmo Lugar”: e ele vem, dá volta e volta pro mesmo lugar.

E é assim. “Inteiro Metade” chega, coloca a gente num espectro reluzente cheio de sensações e emoções e depois nos devolve lá no início, e somos capazes de dizer apenas: NOSSA!

Assista ao Lyric Video da canção Só Pra Ver

Cada música traz perspectivas que causam reflexão. O trabalho como um todo, para Felipe, é como ressignificar algumas coisas:

É um disco sobre o processo de encontrar novos espaços para as mesmas pessoas dentro da vida. É ser inteiro num dia e metade noutro. É a caminhada da transformação, da aceitação dessa mudança dentro de nós. Nesse percurso, aparecem os mais variados sentimentos: euforia, alegria, gratidão, saudade, tristeza, luto. Morre uma relação pra nascer outra”, resume Felipe.

E nessa onda de se transformar e retratar as coisas de novas formas, as canções também se apresentam de maneira bem mutável. Timbres e harmonias eletrônicas são destaque em todo o álbum, mas se cruzam também com os elementos orgânicos dos acordes dos instrumentais à corda. Isso forma uma nova percepção de sonoridade, que não está inteira em nenhum lugar, mas em metades de cada uma das influências de Tagua Tagua.

O Disco

Inteiro Metade” foi selecionado pela Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Rio Grande do Sul (Pró-Cultura), ao lado de Vitor Ramil, Zudizilla e Tem Preto no Sul, por exemplo.

O trabalho também está tendo divulgação internacional. Na Europa, a parceria é com o selo Costa Futuro, dirigido pelo chileno, radicado em Barcelona, Sebastian Ruiz-Tagle. Já nos EUA, a atuação é independente, o projeto está conectado com uma rede de diferentes frentes, como booking e assessoria de imprensa. A aposta nos EUA foi muito em função de continuar o que o artista vem construindo por lá: em 2019, se apresentou no Brasil Summerfest NYC, abriu dois shows para The Growlers e tocou no Baby’s All Right, famoso reduto de músicos localizado no Brooklyn. Além disso, emplacou o single “Peixe Voador” na trilha do FIFA 2020, jogo da EA Sports.

Capa do disco por João Lauro Fonte

A identidade visual é assinada por João Lauro Fonte, que produziu os lyric videos dos singles revelados antes do disco, bem como as capas dos mesmos: “Inteiro Metade”, “Mesmo Lugar”, “4am” e “Só Pra Ver”. Simplesmente maravilhoso todo o projeto desenvolvido por João, ficou tão sublime quanto o disco. Um casamento perfeito.

Se fossemos colocar “Inteiro Metade” em um prisma, é como se ele recebesse as tonalidades do psicodélico com synthpop, mas fosse capaz de se decompor em várias frequências, pois bebe de fontes como a música popular brasileira, samba, soul e toda a bagagem deste músico único e incrível.

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Encontre o Artista:

Ouça o Disco:

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Faixa a faixa

A faixa que abre é Mesmo Lugar, uma das mais animadas do disco. “Foi a primeira a ser composta quando imaginei ter um álbum completo, pois flerta com o Soul, gênero que eu gosto bastante. Isso é bem notável na levada da bateria e também nas frases de sopros”, conta Felipe. A letra retrata o primeiro momento do reencontro de uma pessoa com ela mesma, depois de um longo período dividindo a vida com alguém. É o início do processo de ressignificação, a soma de mil sentimentos: euforia, tristeza, prazer, alegria, medo e solidão.

Só Pra Ver é a faixa que escolhi como música de trabalho do disco”, revela. A música trata com irreverência, tanto no arranjo quanto na letra, as dificuldades de se desvencilhar da outra pessoa. “Você tenta, vai longe, e sempre acaba voltando nela, nem que seja apenas na imaginação. Essa canção também tem algo Soul, o que faz com que o álbum comece com uma identidade definida”, aponta o produtor.

Terceiro single apresentado do disco, 4am dá sinais de um caminho mais introspectivo. Com levadas orgânicas, mas baseadas em beats eletrônicos, a música dá vazão à um estado mais etéreo. Ela passeia com os sintetizadores e piano elétrico por um grande sonho que, com poucos elementos, traduz o sentimento da letra no arranjo.

2016 foi, de fato, composta e gravada em 2016. “Eu apenas regravei algumas coisas e fiz pequenas modificações no arranjo pra casar com o disco. Escolhi essa faixa para essa sequência, pois faria sentido no disco entrar esse momento nostálgico de reflexão. É uma balada, que traz uma certa melancolia e tristeza na aceitação de ressignificar a outra pessoa”.

Bolha é uma música que já tocávamos nos shows e sempre imaginei no disco”, conta. Com a pegada Soul, que predomina em vários momentos do álbum, naipe de metais e solos de sintetizador, a canção é uma auto análise bem pessoal. É o momento de olhar pra si e se perceber no mundo.

Considerada a canção mais séria do disco, Até Cair quase não tem guitarra, é toda baseada em sintetizadores e no beat. E vem seguida de Inteiro Metade, faixa que leva o nome do disco: “essa música representa bem o sentimento do álbum todo. Como o disco é quase uma linha do tempo dos momentos e reflexões desse processo, ela acaba sendo o ponto de intersecção entre a linha da saudade (na melancolia da letra) e a linha da aceitação (no arranjo fluido, leve, que indica o progresso). A música, de certa forma, exalta que não tem como passar por isso sem ser inteiro num dia e metade no outro”, reflete.

Sopro, como o título da música diz, é um fragmento de sentimento. “Gosto muito dessa canção, pois ela é totalmente experimental, tem apenas uma frase que diz tudo o que tinha que ser dito. Já é uma preparação para o novo que está por vir, é a aceitação, é a vontade, é tudo que eu nunca tinha feito antes nesse projeto também. Toda música é baseada em samples que criei no estúdio”, lembra Felipe.

Do Mundo é a canção mais melancólica de todas e simboliza a fase final de todo esse processo bonito: Vem, me abraça e me envolve nos teus sinais, que agora eu sou o mundo, que agora eu sou o mundo, que agora eu sou do mundo.

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