
“Ikê Maré” é o nome do primeiro disco solo do cantor e compositor Julico (Júlio Andrade).
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O mar é imensidão. Fascinação. Admiração. Excessivamente belo.
Nele podemos encontrar tudo, sentir tudo, nos inspirar com todo o esplendor, toda a força, a visceralidade, a magia, a calmaria. “Ikê Maré” traz muitas dessas mesmas qualidades do mar, forte inspiração para todo o trabalho.
Julico é um dos melhores músicos contemporâneos, temos a sorte de viver na mesma época que ele. E qual o bônus disso? Poder contemplar toda a abundância do seu talento e repertório que sempre chegam igual a maré forte que arrastam tudo, seja nosso corpo ou nossas emoções.
“Ikê Maré” é experienciar as fluências das multilinguagens musicais que Julico tem em sua bagagem. Somos colocados em diversas perspectivas de experimentações e misturas de texturas sonoras que compõem todo o trabalho, que se tornou algo muito diversificado, seguindo uma proposta de flutuar pela música brasileira, mas sem deixar de trazer coisas além disso.
O mergulho é profundo, pois as melodias não são nada rasas. “Ikê Maré” é como entrar num portal que nos transporta para a lisergia tupiniquim dos anos 70, com suas distorções, sintetizadores fritados, grooves compassados que embalam as delirantes viagens individuais das mentes inquietas pelo abstracionismo-utópico de um lugar ideal.
No seu primeiro single, “Nuvens Negras”, Julico conduz a música com o violão, valorizando as harmonias vocais e diferentes nuances criadas pelo groove da bateria, baixo e teclados. A letra da música foi construída depois de nuvens de fumaça invadirem grandes cidades no meio da tarde, antecipando a noite em consequência de um dos momentos mais críticos de queimadas em 2019.
Assista ao clipe da canção Nuvens Negras
“Ikê Maré” também é partir por uma jornada que nos leva a percorrer desde a música popular nordestina até o soul norte-americano. Tudo é muito bem colocado em seu devido lugar, nada é despretensioso. Julico sabe bem o que quer e tem a mestria para tal.
Dar play neste disco é como colocar pra tocar uma playlist com Novos Baianos, Tim Maia, Luiz Gonzaga e Ave Sangria. Não é uma música parecida com cada um desses artistas, são as melhores coisas desses artistas em cada uma das músicas. “Ikê Maré” é um samba-soul-forrotropicadelic.
O Disco

“Ikê Maré” foi produzido pelo próprio Julico, que também compôs grande parte de todos os instrumentais do disco: guitarras, baixos, teclas e violões. O trabalho contou com mixagem e masterização de Leo Airplane, bateria por Ravy Bezerra e participações de André Lima (trompete), Diogo Rocha (saxofone), Rafael Ramos (teclas), Leo Airplane (teclas) e Meire Andrade e Ellen Andrade (coro).
Outras colaborações foram imprescindíveis para o disco. Na faixa “Todo Dia é Santo”, Curumin assume os vocais ao lado de Julico. Em “Paramopama / Vaza-Barris” a voz que ecoa é de Winnie. Já a cantora Sandyalê acompanha Júlio em “São Cristóvão Via Niger”.
A capa do disco ficou por conta de Victor Balde. E vasculhando a internet encontrei algo muito interessante: uma pasta de Julico no Pintrest com referências para o trabalho “Ikê Maré”. (Acesse clicando aqui).
Múltiplos afluentes desaguam em “Ikê Maré”. São as águas doces de algumas melodias se encontrando com a pororoca sonora dos graves e sintetizadores que desaguam juntos à salinidade das letras ácidas, críticas e viscerais.
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Ouça o Disco:
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