
“Aulas” é o nome do sexto disco do músico carioca Lê Almeida.
—
Ruído. [substantivo masculino]
Som indistinto sem harmonia; estrondo.
Som de várias vozes ao mesmo tempo; gritaria, tumulto.
[Figurado] O que causa escândalo ou tem grande repercussão.
[Eletrônica] Designação genérica de todos os defeitos que perturbam ou impedem uma transmissão radiofônica ou telefônica.
São os ruídos a base para a construção sonora que percorre todo o disco. Como uma das definições do dicionário diz: perturbam ou impedem uma transmissão. Sim, dificultam o entendimento, mas só de quem não é um apreciador de noise rock.
Mas nem tudo são nuvens nebulosas com trovões, raios e estrondos numa noite escura e cinzenta em qualquer grande capital do mundo. “Aulas” é extremamente melodiosa. É extremamente fluida. Estritamente cativante. Basicamente um disco perfeito.
Eu, mero amante da psicodelia, me envolvi completamente nas notas e acordes que flertam (ou transam) e se entregam à sonoridade lisérgica de cada uma das músicas. Cada qual, individual, imperfeitas. Mas coletivamente trazem um aspecto acurado, capaz de proporcionar as viagens mais árduas, malucas, barulhentas e ásperas, assim como o atual momento que vivemos.
O Disco

“Aulas” foi concebido após duas longas turnês com o Oruã (banda qual Lê Almeida faz parte) pelos EUA e Europa e fazendo parte da lendária banda americana Built to Spill. E depois de tantas jornadas, ele se viu preso em casa pela pandemia. Ali, buscou aprofundar no conhecimento interno e de criação musical. É de onde vem o nome do trabalho, “Aulas”, em uma referência à gíria carioca.
“Aulas”, como em grande parte de sua discografia, conta com Lê Almeida em quase todos os instrumentos. O álbum ainda traz Bigú Medine no baixo e João Casaes no synth e masterização. Além deles, uma série de artistas fazem participações especiais como o americano Rumi Kizmic (Distant Family), Laura Lavieri, Daniele Vallejo (Blastfemme) e Dinho Almeida (Boogarins). O disco é um lançamento da Transfusão Noise Records.
“Aulas” é o mais puro fruto do barulho frenético vindo da Baixada Fluminense, dos quartos, dos becos, do escritório e tudo com forte potencial de catarse coletivo. Delírios e viagens acontecerão com certeza, basta você decidir se vai apertar os cintos ou qualquer outra coisa.
__________________________________
Encontre o Artista:
Ouça o Disco:
__________________________________
Faixa-a-faixa, por Lê Almeida:
1 – Constelação de Virgem – Eu curto faixas que simbolizam aberturas e essa era só uma frase de guitarra que dizia algo, mesmo sem voz. Minha irmã Leticia toca metalofone e Bigú Medine, baixo.
2 – Luar Crescente – Nosso começo na onda de dois baixos em um rock pesado. Esse era um riff antigo meu que acho que sempre praticava na guitarra até que rendeu uma faixa. Tem um baixo do Bigú e outro do João Casaes.
3 – Interior de Qualquer Desordem – Queria que soasse calmo e pesada, é um som de bateria que gosto muito. Tem violino da Rumi Kuzmic, baixo do Bigú e synth do João Casaes.
4 – Apreço Antigo – Essa era uma base antiga, já tinha tudo pronto e ficava meses testando diferentes melodias de voz. Fez eu assimilar novas formas de entortar a voz.
5 – Insight Fim – Inicialmente era pra ser uma faixa de guitarra e voz, bem delicada. Testei uma bateria uma vez e deslanchou outra onda. Tem baixo de João Casaes.
6 – Coroação – Fiz pra minha mãe. Tinha essa introdução há anos, sempre me soava triste e melancólica. Gosto de todo o crescente que ela faz, tudo acontece. Tem baixo do Bigú e backing vocals da Laura Lavieri.
7 – Fatal Falta – Gravei essa no Tascam em cassete, inicialmente não era pro disco, mas depois fez algum sentido pra mim. Julio Santa Cecília participa com drones, synths e reverberações.
8 – Imaculada – Talvez seja essa o rock mais pesado do disco. Tinha as baterias gravadas de alguns anos atrás, estava esperando o momento certo de gravar. Acabei fazendo umas guitarras como experiência pra depois regravar, acabou que tudo ficou dessa primeira forma, até a voz. Tem baixo do João Casaes e guitarra e backing vocal por André Medeiros.
9 – Amarração – Essa começamos a gravar em 2016 em cassete. Foi a partir dela que o disco surgiu. Dedicada com muito amor aos meus pais. Além da banda base com Joab Régis na bateria, tem Felipe Oliveira (Gaax) no trompete e backings, Daniele Vallejo (Blastfemme) e Dinho Almeida (Boogarins) nos backings e Barbara Guanaes (Mos) no metalofone.
10 – Castelo de Asas – Eu queria por mais faixas com violão, talvez só mais faixas sem bateria. Essa foi algo que fiz pra poder tocar no violão com facilidade, no flow. Eu fiz pra minha irmã Letícia, dedicado a esse castelo enorme de asas que essa liberdade desse momento tem nos dado.