Lançamentos resenha

Dramón traz distopia sonora em seu disco experimental “Àspero”

Quando um sistema sócio-político está falido ele nos perturba constantemente. Quando a norma musical regente nesse sistema oprime a criatividade e inovação é preciso violar as regras. “Àspero”, Dramón, é exatamente isso.
Foto divulgação por Rodrigo Gianesi.

Àspero” é nome do primeiro disco completo de Dramón, alter ego do músico e produtor carioca Renan Vasconcelos.

Áspero.
Substantivo masculino.
Não regular; que contém irregularidade.
[Figurado] Grosseiro; muito difícil de conviver.
[Figurado] Complicado; em que há dificuldades.

Se seguirmos as definições do dicionário com certeza o nome do disco pode fazer sentido pela sua proposta ser experimental. Mas ouvindo realmente e com atenção ao álbum é impossível não perceber que o trabalho não tem nada de áspero. É sim em formato experimental, mas existem muitas nuances que o fazem ser bem além de explorações musicais aleatórias.

Ao dar play em “Àspero” é como se um portal se abrisse em nossa frente, nos convidando a entrar para uma viagem que não fazemos ideia de onde irá nos levar. Foi exatamente isso que senti, um convite ao inesperado.

O caminho é por oras um pouco obscuro, como uma noite sem lua numa grande metrópole devido à poluição incessante dos carros, indústrias e do desmatamento desenfreado, além, claro, do “soterramento” dos rios e riachos que agora passam sob nossos pés e nem ao menos sabemos onde eles estão.

A estética experimental, na maioria das vezes, sempre nos levou para este espectro urbano, em “Àspero” não é diferente. Como barulhos ininterruptos de máquinas que giram a roda do capitalismo, a sonoridade do disco também nos apresenta loops sonoros em repetidas vezes, algumas em sequência, outras mais esporádicas ao decorrer das músicas.

Sons ambientes estão por toda parte, mas nem sempre é possível identifica-los exatamente. Mas o que você com certeza pode fazer é adentrar neste disco e criar sua própria paisagem sonora.

Mas não, não é tudo conturbado. Apesar do nome, “Àspero” não é um caos. Eu viajei, e bastante, mas também me senti muito contemplado pelas sonoridades, algumas vezes até relaxado. O disco é linear em sua proposta instrumental/experimental, mas também labiríntico quando percebemos os recortes que compõem toda a obra.

O Disco

Capa do disco por Marcelo Malni.

Todas as oito faixas do disco foram compostas por Dramón em 2020, exaltando as experimentações intimistas e enigmáticas entre som ambiente, guitarras e loops. A canção que abre o disco, “Àspero”, é a mais antiga, e Dramón conta que a faixa “é a que melhor transita entre os dois universos, do passado e do presente. O disco também transita entre o rock e a experimentação, e é diferente de tudo que já lancei anteriormente”.

Àspero” é o primeiro álbum completo de Dramón, anteriormente havia lançado 4 EP’s (Bétula // Membrana, de 2021; Oscilar, de 2020; Equilíbrio Utopia, de 2019, e Ansiedade Morte, de 2018) e o single “Afã” (2020).

Dramón contou com os amigos Marcelo Malni (baixo na música “Àspero” e compôs e tocou a música “Insônia”) e Felipe Duriez (voz na música “Ecos do Vazio”). O álbum é um lançamento pelo selo Sinewave Label.

Quando um sistema sócio-político está falido ele nos perturba constantemente. Quando a norma musical regente nesse sistema oprime a criatividade e inovação é preciso violar as regras. “Àspero”, Dramón, é exatamente isso.

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