
“Marmota” é o nome do primeiro disco do cantor, compositor, ator e multiartista piauiense Getúlio Abelha.
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Isso não é apenas uma matéria sobre o disco, é uma matéria sobre minha total admiração ao artista Getúlio Abelha. Então, assim sendo, devemos começar no começo!
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Dia 08/12/2018.
Eu pego o trem em minha cidade no interior de São Paulo com destino à capital para ver o terceiro e último dia de showcases da Semana Internacional de Música, a SIM São Paulo. O dia reservava oito apresentações, algumas eu já conhecia, como Vitor Araújo, Afrocidade, Drik Barbosa e Luísa e Os Alquimistas. Outras eu nunca tinha ouvido falar, eram Ozu, Skrotes, Félix Robatto e Getúlio Abelha. De fato o nome Getúlio Abelha já foi o que me chamou mais atenção, mas não fazia ideia do que seria esse músico.
Os shows que antecederam foram muito bons, mas o melhor ainda me aguardava. Getúlio Abelha é anunciado no telão, começa um riff de guitarra, um clipe começa e rodar ao fundo e então Getúlio Abelha e seus bailarinos entram no palco. Bailarinos? Essa foi minha primeira surpresa.
Por incrível que pareça encontrei um vídeo no Youtube do exato momento em que os três entram no palco, vejam isso e imaginem como pode ter sido a minha reação naquele momento, eu que nunca tinha ouvido falar deste artista.
Getúlio Abelha – Laricado (SIM SP 2018)
Eu simplesmente fiquei em choque. Eu não estava acreditando naquilo, era misto muito louco de “que porra é essa?” com “puta merda isso é maravilhoso!”. Era espanto e êxtase ao mesmo tempo, era boca aberta e sorriso de alegria.
O pocket show foi percorrendo e a cada canção eu estava mais empolgado e admirado com o que todos estavam fazendo no palco. Até que o ápice chegou: “Vogue Bike”. Bicicletas entram em cena e os bailarinos começam a pedalar no palco com muita animação, dança e performance, com direito até a sangue fictício.
Foi nesse show que eu virei fã de Getúlio Abelha. Foi nesse show que eu vi o que é uma performance. Foi nesse show que eu entendi o que é um artista completo. Foi nesse show que me entreguei de corpo e alma a Getúlio Abelha.
Depois do show fui buscar mais conteúdos do artista, mas me deparo com apenas duas músicas no streaming e alguns poucos vídeos no Youtube, porém o excelente clipe de “Laricado” já estava lá. E mais nada.
Depois de algum tempo vieram os clipes de “Tamanco de Fogo” e “Aquenda”, aliás essa segunda é uma das minhas músicas preferidas do Getúlio com todo o teor crítico-social e até debochado, e dela vem o seguinte depoimento do cantor no início do vídeo:
“Eu fui uma criança que nasceu no nordeste do Brasil e sofria uma pressão e era obrigada a ter um comprometimento com a masculinidade, com o papel de cabra macho que nunca me coube. Mais ou menos com 16 anos de idade eu estava todo fantasiado e meu pai falou “o que é isso, que porra é essa, que marmota é essa?” Marmota, eu amo, eu sou uma Marmota hoje HAHAHAHAHA EU VIREI UMA MARMOTA HAHAHAHAHA”
2021. Marmota.
Depois de tanta espera, não só minha, mas de todos os fãs de Getúlio Abelha, finalmente seu primeiro disco chegou e minha felicidade está completa. E o outro FINALMENTE vai para o fato de “Vogue Bike” chegar no streaming. Eu ouvi um amém, Igreja?
Quem abre o disco é a faixa “Tapuru”, o nome refere-se a uma espécie de berne, também chamado de “bicho do lixo”, eles surgem, na maioria das vezes, das moscas, ao ouvir a canção vocês vão entender o nome. Logo em seguida a faixa “Laricado” é um hino dos famintos, eu me sinto representado demais, afinal quem não gosta de ir num encontro pra comer, não é mesmo? A música traz uma sonoridade tecnobrega forrozeira com sintetizadores fritados dançantes demais, e a letra é um espetáculo à parte, irreverência é o carro-chefe dessa faixa.
“Cavalo Corredor”, a terceira do disco “Marmota”, começa à lá Luiz Gonzaga, com declamação poética e acordeon percorrendo toda a faixa, é um forró bem clássico, em sua raiz, com direito até a triângulo. Na mensagem uma sofrência amorosa com o medo de perder o amor mas, ao mesmo tempo, o medo de prender demais.
Depois de “Vogue Bike”, que é a mais pedida pelos fãs e talvez a canção mais clássica de Getúlio Abelha, vem a música “Sinal Fechado”, mais um sofrência das brabas. Aliás, essa música tem um clipe maravilhoso, espetacular, foda pra caralho, trabalho impecável de Lucas Sá na direção e roteiro e de Getúlio Abelha e Lucas Sá no conceito visual de terror e retrofuturismo.
Veja o clipe de Sinal Fechado
A sexta canção de “Marmota” é uma das inéditas. Bem melódica e sofrida, a música mistura um pouco de mpb com brega eletrônico e metais para quem gosta de músicas para dançar juntinho ou sozinho e chorando, que música triste, puta merda.
Numa parte dois do disco – da metade pro fim – temos três faixas inéditas: “Cachorro Maldito“, um metal fritação psicodélico que funciona muito bem como um interlúdio; “Pigarro“, um forrózinho eletrônico rapidinho meio fritação também quase um repente em algumas partes (“gente, que música é essa?” palavras do próprio Getúlio); e “Perigo”, mais um eletroforró mais cadenciado e um pouco triste e melancólico para finalizar o disco no astral médio haha.
Mas antes dessa última temos três hits, ou dois, ou um, nunca se sabe. O que é certo é que “Tamanco de Fogo” é uma queridinha dos Getuliers (ou Abeliers) e sempre é pedida por onde ele passa. Temos também “Aquenda” que, como disse antes, é uma das minhas preferidas (aproveita e clica aqui para ouvir a versão brega funk maravilhosa da faixa).
E não menos importante a música “Vá Se Lascar“, que por muitas vezes passou despercebida no meu radar entre as outras de Getúlio Abelha até que um meme me fez olhar essa canção de outra forma, isso mesmo, um meme kkkk. E no final das contas essa acho que é a música do disco “Marmota” que eu mais me identifico.
O Disco

Eu passei o tempo escrevendo isso, ouvindo o disco e dançando sentado na cadeira. Mas pra que isso acontecesse e “Marmota” me proporcionasse esse momento, Getúlio Abelha produziu um disco foda demais com a parceria de Guilherme Mendonça, que também assina a produção musical. O Disco é um lançamento pelo selo Rec-Beat (Recife/PE) e foi gravado nos estúdios El Shaka (Fortaleza) e Floresta Sonora (Belém).
“Perigo”, faixa de encerramento do álbum, acompanha este lançamento com um clipe que reforça a faceta performática e audiovisual de Getúlio Abelha, marcada por um padrão estético já bem característico do artista: luzes e cores bem fortes, mesclando o glam com o sombrio. Dirigido e roteirizado por Getúlio e João Barretto (Artífice Filmes), “Perigo” acompanha uma noite protagonizada pelo cantor interpretando dois papeis distintos.
“Marmota traz muito do escracho, enquanto esse clipe vem mais sóbrio e contextualizado com o que estamos vivendo. Segui por uma abordagem mais poética, com um senso de humor quase zerado. É uma faixa que fala de isolamento, de futuro e solidão das ruas. Fala também da vulnerabilidade de corpos. Corpos de artistas, de cientistas e estudantes, enfim, os corpos de todos aqueles e aquelas que encontram-se em perigo sob esse governo e à pandemia em si”, explana Getúlio.
Veja o clipe de Perigo
2021 talvez seja o ano da carreira de Getúlio Abelha. Lançamento do DVD Ao vivo no Madruguinha em janeiro; apresentação memorável no Festival Rec-Beat SP em fevereiro e lançamento do disco “Marmota” em junho.
Cria do Teatro, Getúlio Abelha sempre soube transpor sua performance para o palco. Em “Marmota” o desafio era outro, passar essas sensações através das músicas, sendo uma representação da sua explosão de liberdade como espelho para quem, por algum motivo, ainda não conseguiu botar pra fora. O resultado deste desafio é este disco impecável!
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