
Estamos na semana 4 das Mini Mini Notas de Lançamentos e por essa eu não esperava, tô perseverante até. Essa semana tá braba, acho que você vai gostar, mas se não gostar também não tem problema.
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Semente (Álbum) – Bel_Medula

Antes de mais nada, quero deixar claro minha admiração total à multiartista Bel_Medula: compositora, cantora, multiinstrumentista, produtora musical, musicóloga e doutora em Musicologia pela Universidade Autônoma de Madrid, que mulher incrível, que cabeça artística mais vibrante, é uma fábrica de ideias que nunca para, fico pensando quantos Charlies Chaplins têm dentro dessa mente trabalhando incessantemente kkkk. Além do mais, é o terceiro disco dela em três anos consecutivos, como que consegue???
Se você acompanha minhas playlists já deve ter visto por lá os três singles que antecederam este disco: “Os Ouvidos Têm Parede“, “Dona Quixota” e “Coração de Papel“. Agora, o álbum “Semente” trouxe mais nove faixas inéditas que você não pode deixar de ouvir.
Bel_Medula trouxe para o disco toda a efervescência sonora muito baseada em beats e camadas de cyberpunk e electropop que ela já mostrou conhecer muito bem participando do desafio #30dias30beats. Essa característica aproxima mais a obra do experimental do que do popular, e por isso é muito mais lindo. Mas as canções não são apenas com elementos eletrônicos, os instrumentos orgânicos também têm sua vez com sax, guitarra, baixo e bateria.
A mensagem da canções transita principalmente por questionamentos necessários ao contexto que a sociedade enfrenta, explica Bel_Medula:
“Semente traz ao mesmo tempo a teia entre mulheres, que sigo articulando desde PeleOsso, traz o mergulho na ancestralidade e nas conexões além de mim, a partir de cânticos inventados onde drones se aproximam de mantras, e traz uma reflexão sobre as estruturas sociais, onde a escuta e o respeito às diferenças se fazem cada dia mais urgentes“.
“Semente” tem produção assinada por Bel_Medula e Luciano Zanatta (que também fez a mixagem), já a masterização ficou a cargo de Gilberto Ribeiro Júnior. No time de músicos, o projeto contou com Lucas Giorgetta na bateria, João Pedro Cé na guitarra, Bruno Vargas no baixo e Luciano Zanatta no sax, sintetizador, samples, percussão eletrônica, guitarra e baixo. O filho de Isabel, Pedro Nogueira, fez sua estreia registrando as guitarras de “Coração de Papel”.
Além do disco, Bel_Medula também liberou o vídeo da música “Teu”, uma homenagem ao filho da artista, Gabriel, assista ao clipe aqui. “Semente” é um lançamento pela PWR Records.
OBS: A faixa “Sonora” é minha preferida, adorei a forma quase mantra tântrico dela, que aliás no fim vem acompanhada por uma poesia declamada incrível. Também adorei a faixa “Tudo Quieto Menos Dentro“.
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Adeus Mundo Véio (Álbum) – Sonora Fantasma

“O que é a vida? É o princípio da morte! O que é a morte? É o fim da vida!“
Entre a vida, a morte e a existência, a canção de abertura “Intro Vida Morte e Existência” é como uma marcha fúnebre experimental bem melódica, mas melancólica. Sonora Fantasma foi um ótimo nome para combinar com essa canção, também com outras do disco, afinal as sonoridades, algumas vezes, ficam vagando em nosso fone de ouvido e pode nos levar a contestações de “estou mesmo ouvindo isso? É experimental? É rock? É psicodélico? É lo-fi?”. Eu te digo que é tudo isso junto.
As duas músicas lançadas previamente, “O Provável e o Possível” e “Vento do Leste”, já deram a cara da forma que o disco provavelmente se comportaria, e foi mais ou menos isso, pois as faixas inéditas, bom, vou deixar você ouvir para entender. As mesclas de camadas sonoras percorrendo os vários estilos do rock e adentrando também no indie e no eletrônico estão bem claras em “Adeus Mundo Véio”, mas como dito antes, o lado experimental também marca presença no disco.
Além da capa incrível feita por Keila Martins a partir de colagens, o álbum também traz essa estética para as músicas através de sons, palavras, imagens e texturas remontadas para construir algo a partir do novo.
Nas palavras de Diego da Costa, líder do projeto Sonora Fantasma, “Adeus Mundo Véio foi a forma que encontrei de expurgar toda a raiva que sinto e a necessidade de me manter são em meio ao genocídio que sofremos no Brasil. É um grito contra a falta de imaginação. É uma resposta àqueles que, apáticos, educados dentro das normas do discurso, reproduzem as falas de almofadinhas de terno, incapazes de pensar novas possibilidades.”
O álbum foi gravado em Socorro (interior de São Paulo) no Estúdio RBS e chega às plataformas de streaming pelo selo Abbey Roça. Diego da Costa ainda assina a produção ao lado de Rafael Sartori.
Obs: a faixa “Mundo Novo”, puta merda, que viagem, se fudê, música boa do caraio. É isso aí, meti de novo uma música com mais de nove minutos na playlist de indicações da semana!
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Preta (Single) – O Acaso Mora ao Lado e Ananda Jacques

A junção do indie rock da banda O Acaso Mora ao Lado com a voz poderosa de Ananda Jacques no single “Preta” foi surpreendente. É aquele feat. que quando você vê, analisa, e acaba pensando que talvez não vai dar muito certo, pois a diferença de estilos entre os dois é bem grande. Mas é isso, estamos em tempos tão malucos que até esse feat. que duvidei que daria certo deu. E deu muito certo.
A sonoridade do single não foge do rock que a O Acaso Mora ao Lado vem fazendo, e muito bem, nos últimos tempos, mas a voz de Ananda Jacques trouxe uma leveza para a canção e deixou os tons bem mais melódicos. Não perde tempo e dá play aí pra ouvir esse novo som.
Ouça o single:
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Florescer (EP) – Fabiana Santiago

Uma das coisas que as pessoas mais devem estar sentindo falta desde março do ano passado com certeza é dançar um forrizin, juntin, agarradinho. Até eu que não sou do forró e da dança estou com saudades disso que nunca vivi. Imagina pra quem gosta, não é mesmo? Sorte de quem tem alguém com quem dançar nesses tempos, porém mesmo que você não tenha tá liberado dançar sozinho ao som do EP “Florescer” da cantora Fabiana Santiago.
Trazendo uma carga cultural muito forte, este álbum navega pelas sonoridades clássicas do forró e pode muito bem ser reverenciado pelos passos de xote brasileiro, que aliás carrega essa alcunha desde quando os escravos no século 19 aprenderam os passos e adicionaram mais elementos e por isso o xote é o que é, pois se dependesse da origem europeia…
Uma das músicas que achei mais interessante foi “Palavra de Mulher“, canção composta por Zebeto Corrêa e Caio Junqueira Maciel, mas que parece muito ser da Fabiana Santiago, como se ela usasse sua poesia para homenagear grandes poetas que ficaram na história do Brasil. Nem toda mulher é uma poeta, mas todas são autoras de suas vidas.
Segundo Fabiana: “o EP “Florescer” é o meu desabrochar enquanto artista. Mulher em profunda mutação, palavra, poesia, resistência e resiliência em cada detalhe. Uma entrega de corpo, alma e voz. É cobrir de flores o caminho sombrio! Fazer brilhar!”.
Além de tudo, “Florescer” é uma ode ao sertão, à terra, à raiz. É forró e baião. É sangue e suor. É amor e coração.
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Banda Nova Malandragem (Álbum) – Banda Nova Malandragem

“A música é muito mais antiga que as palavras“.
A Banda Nova Malandragem traz seu trabalho de estreia, e que estreia. O EP homônimo nasce moldado em alguns eixos, assim como a história da banda; A reflexão sobre ser um homem preto no Brasil de agora, na busca de possíveis espaços de aquilombamento negro onde suas ideias e sua música possam acontecer, e na busca de uma linguagem musical ligada a ancestralidade afro-diásporica brasileira, fazendo com que essa linguagem musical dialogue com o domínio do samba-rock.
Forjada nas periferias da grande São Paulo, a Banda Nova Malandragem traz em sua essência uma identidade musical ampla, versátil, mas como muita leveza incorporando o jazz ao samba rock. É um EP exímio, todo o trabalho e cuidado do grupo resultou nessa obra extremamente cativante e gostosa de ouvir.
A banda formada por 13 integrantes surgiu em setembro de 2017 numa ideia de desenvolver um trabalho de educação musical dentro das escolas públicas da Grande São Paulo.
“Uma vez que a Banda Nova Malandragem traz em sua formação instrumental uma maioria de homens negros, visados ao cárcere e ao extermínio sistémico, todo e qualquer trabalho desenvolvido por nós revela de maneira implícita e explícita, as dimensões políticas de nossa existência; inclusive, no mero fato de existirmos enquanto banda”, comenta Luan Charles.
O disco foi todo gravado em três dias, praticamente ao vivo, deixando apenas algumas coberturas de percussão e solos para depois, buscando manter a explosão de espontaneidade e a força das interpretações.
“Banda Nova Malandragem” contém 11 faixas e faz parte do pacote de estreia do novo selo de samba Mundaréu Paulista da gravadora YB Music, dirigido pelo cantautor e produtor Marco Mattoli, que também assina a direção artística e produção deste lançamento, junto do produtor Maurício Tagliari.
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