
O dia era domingo, eu estava cansado, bem cansado, no dia seguinte mais motivos e trabalhos para me deixar cansado. Só uma coisa poderia melhorar meu dia e me dar fôlego: a nova música da Aquino e a Orquestra Invisível. No exato momento que estou escrevendo isso já estou com os fones de ouvido conectados pronto para dar play. Tudo o que será escrito adiante será simultaneamente ouvindo a música “Stevie Wonder”, novo single da banda, a faixa sai apenas amanhã (02), mas já deixo aqui pra vocês o que eu achei da nova canção.
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Os acordes do violão marcam o final de uma era, assim como marcaram diversas músicas que tomaram conta de nossos corações desde o início do ano passado, como “Luzia-Homem” e “Pai”. Eles abrem o caminho dessa nova canção, mas são muito bem acompanhados por outras sonoridades que aguçam nossa sensibilidade, nosso cerne, nosso amor. Muito mais próximo da world music – usando esse termo mas nem ao menos sei bem o que significa – “Stevie Wonder”, assim como as outras, é penetrante e nos toma por inteiro.
Em um curioso momento da canção eu me dou conta do que essa música representa, e é neste momento que não consigo segurar as lágrimas. Para mim, a nova canção é literalmente composta por pequenos trechos de várias outras canções da Aquino e a Orquestra Invisível. É isso mesmo, temos notas de violão que lembram as duas faixas já citadas, os sintetizadores de “Pitaya” e “Pra Dois”, as guitarras de “Ruas” e “Os Prédios Cinzas e Brancos da Av. Maracanã”, a orquestra de “Transoceânica (Ato I: Mar / Ato II: Peixe)”, a percussão de “302”, a doçura de “Au Revoir”, as fritações, as viradas e ponto alto que todas as canções trouxeram. Ela se chama “Stevie Wonder”, mas eu facilmente chamaria ela de Fragmentos.
Pela primeira vez temos dois lados formando um só, João Soto e João Vazquez nos agraciando com suas vozes em uma mesma canção, isso deixa a faixa com uma ternura esplêndida, quem é fã da banda com certeza se sentirá totalmente contemplado.
No disco “Os Prédios Cinzas e Brancos da Av. Maracanã” a Aquino e a Orquestra Invisível fez suas músicas como paralelos, sendo cada uma com o seu par, e nessa canção, que fecha esse ciclo da banda, o paralelo é com todas as outras.
Ouça a música
Stevie Wonder

No disco, Vazquez e Soto cantavam suas próprias composições, mas neste single, como ambos escreveram, ambos também cantam. A concepção do arranjo veio em uma viagem que o grupo fez para São Pedro da Aldeia, cidade na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Como o álbum todo foi produzido e gravado no Locomotiva Estúdio, na Tijuca, os ares diferentes da cidade pequena inspiraram a banda a seguir um caminho de maior experimentação sonora.
A canção teve a colaboração de Gustavo Moreira, irmão do baterista Leandro Bessa, que apresentou sua guitarra rasgada que é perceptível em toda a faixa, e produção, mixagem e masterização por Sidney Sohn Júnior.
Sabe lá em cima onde eu disse world music? Então, depois de ouvir ela inúmeras vezes ficou um pouco mais claro e correto usar esse termo pois, apesar de todas as referências a sua própria obra, a banda também apresentou influências de indie, pop, lo-fi, jazz e outros, se aproximando bastante de artistas como Mac DeMarco, WILLOW e Pond. Será esse o caminho da nova fase?
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