
“Jornada Selvagem” é o nome do novo trabalho do incrível músico Psilosamples.
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Psilo [substantivo masculino]. Artista que domestica serpentes.
Samples [substantivo masculino]. Trechos de registros sonoros que podem ser usados para montar uma nova composição. Samplear.
Psilosamples. Artista que domestica os sons, as construções e camadas sonoras, transformando fragmentos musicais em novas criações que podem nos deixar abismados.
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“Jornada Selvagem” é uma jornada selvagem. Quando colocamos os pés na entrada os sons instigam nossa curiosidade e fica impossível não querer descobrir a possibilidade de conhecer um novo mundo. Entramos. Somos recebidos por percussões de diversos instrumentos, ainda não vemos nada nitidamente, mas continuamos caminhando guiados pelos barulhos que estão sendo apresentados.
Foi impossível não me sentir como um pequeno ser de madeira – como os retratados no disco Me Redesenho de Numa Gama – pronto para explorar uma floresta habitada por sei lá o que. Tudo parecia inóspito no começo, a estranheza pode tomar conta da gente, mas é preciso deixar isso de lado para aproveitar “Jornada Selvagem”.
Aos poucos as coisas vão ficando mais claras, a diversidade de barulhos, samples, gravações e fragmentos vai variando e tendo cada vez mais ritmo. Estávamos no passo a passo, agora já estamos caminhando e fazendo movimentos semelhantes a uma dança bem desengonçada. Conseguimos encontrar os primeiros seres da nossa jornada, mas claro que é impossível identificar o que são, pois sua composição corporal é indecifrável. Cara, que ambiente maluco.
Apesar de tudo, a sensação é quase indescritível, a calma toma conta da gente, o relaxamento é inevitável, a viagem pode ser a mais incrível se você se permitir. Um dos seres inidentificável se aproxima, me oferece algo em um frasco e faz sinal para beber, eu bebo. E tudo se transforma.
A canção “Chão” começa a tocar, a vegetação cresce de forma rápida, tudo começa a ficar repleto de costelas de adão amarelas, begônias carnívoras, espadas de são jorge viram soldados montados em girassóis, flamboyants têm braços longos e dançam ao som da música, gazânias trocam de cor rapidamente e madressilvas soltam-se de suas folhagens e viram pequenos seres independentes.
Cores tomam conta de tudo, parecia que aquele mundo estava sendo iluminado por strobos. O cheiro de relva não era cheiro de relva, era de alho poró e jasmin, ao canto, alguns seres em volta do haxixe fazendo a próxima colheita.
Glaucus Atlanticus que deveriam estar no mar voavam pelo céu alaranjado, Balaeniceps Rex alimentavam seus filhotes, Stomatopodas estavam por toda parte no chão, Ogcocephalus Vespertilio se alimentavam de frutas nas árvores e Polvos Mancos eram extremamente comuns.
“Jornada Selvagem”, no final das contas, não foi selvagem, foi simplesmente uma das jornadas mais estimulantes que eu já pude experienciar.
O Disco

Em “Jornada Selvagem”, Psilosamples nos leva numa gira por batidas minimalistas, sonoridades hipnóticas e as reviravoltas imprevisíveis que fazem de sua música inconfundível. O álbum é uma imersão e, ao mesmo tempo, a fuga da “vida em telas” que se tornou ainda mais dominante durante a pandemia – É a jornada selvagem de encontrar a saída dos metaversos.
Psilosamples é o pseudônimo do produtor musical Zé Rolê, conhecido por ser um dos mais criativos criadores musicais do Brasil. Desde os anos 2000, ele tem criado e remixado música brasileira e sul-americana com sua profunda pesquisa em Hip-Hop, Downtempo, IDM e Techno. Psilosamples já remixou oficialmente grandes nomes como Elza Soares, Nicola Cruz, M.Takara e já se apresentou em diversos festivais no Brasil, Europa, México e Japão. Psilosamples é um dos músicos que formaram a identidade sonora da gravadora/selo VOODOOHOP, por onde sai esse disco, e é conhecido pelos íntimos como “Aphex Twin da Roça”.
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