
“Maracujá Azedo” é o nome do novo disco da baterista e produtora musical Naná Rizinni.
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Jazz Psicodélico. Talvez o jazz sempre teve sua veia psicodélica, ainda mais se for a fritação e bagunça do free jazz. Esse foi o primeiro questionamento que tive ao ouvir “Maracujá Azedo“, novo trabalho da musicista Naná Rizinni. E depois de ouvir o álbum algumas vezes ainda não sei bem definir o que seria essa música, mas o bom é que não preciso definir nada e tenho que parar com a mania de querer encaixar músicas dentro de estilos, hoje é tudo tão plural que isso é algo bem arcaico de se fazer.
Essa pluralidade que citei antes é algo extremamente presente em “Maracujá Azedo“. Ouvir as canções é ter algumas brisas, a gente pode imaginar o trabalho como uma trilha sonora de filme, por exemplo, mas pra mim algumas faixas me lembraram bem mais as sonoridades de games dos anos 80, talvez pela grande influência de elementos eletrônicos na composição.
Uma viagem pelo jazz muito bem feita, sei que tô meio que preso a isso pois acredito que foi o ponto de partida do disco, mas é inegável que tem muita música indie e psicodélica, os sintetizadores fritam a gente diversas vezes e eu fiquei boquiaberto com todo o som que conseguiram tirar deles. Estou bem impressionado com a qualidade deste disco todo, surreal.
As canções de “Maracujá Azedo” têm uma outra vertente que traz para seu ambiente sonoro características da música brasileira, em alguns momento achei até que o Marcos Valle estava ali com seu teclado fazendo um som. Ainda temos pílulas de música pop permeando todo o trabalho. Aliás acho que este álbum pode ser bem considerado de música pop também, viu, uma pena o trabalho de Naná Rizinni ainda não ter chegado em tantas pessoas.
Veja o clipe de Tempo Dilatado
Percorrendo pelas faixas do disco, as canções foram me remetendo a alguns artistas que gosto muito, não necessariamente pelo fato das músicas serem parecidas, mas sabe quando você ouve algo e lembra de uma outra que você gosta bastante? Foi tipo isso, e entre esses artistas que lembrei alguns nomes são Marcos Valle, claro, Boogarins, Pluma, Bebé e o mestre Letieres Leite com sua Orkestra Rumpilezz, que infelizmente nos deixou.
O Disco

“Maracujá Azedo” foi iniciado na cidade de São Paulo, porém finalizado em Londres, onde a artista reside atualmente, talvez isso tenha ajudado na hora de explorar um maior número de referências, mas sem deixar de citar que a bagagem musical de Naná Rizinni é gigantesca. Produtora musical e exímia baterista, ela já trabalhou ao lado de Tiê, Jaloo, Johnny Hooker, Ana Cañas, Paulo Miklos, Lucy Alves e o duo belga Vive La Fête, entre outros.
Neste disco, dizendo de forma simplista, ela mandou na porra toda: assinou todas as composições do disco, a produção musical e gravou as baterias, além de ser responsável pelos sintetizadores, programações eletrônicas e efeitos sonoros que definem a singular estética deste trabalho. A voz da própria Naná Rizinni vira mais um instrumento graças a múltiplas dobras e agressivos processamentos.
Mas nem todo trabalho é feito sozinho, para isso a artista contou com um time de peso na composição dos instrumentais das faixas: contrabaixos de Fábio Sá, André Whoong, Ana Karina Sebastião e Cleanto Neto, pianos de Rafael Montorfano “Chicão”, Vitor Arantes e Bruno Venturin, saxofones de Filipe Nader e Anderson Quevedo, trompetes e flügelhorn de Fernando Goldenberg e Amílcar Rodrigues, percussões de Lênis Rino e Guga Machado, e sintetizadores de Pedro Rangel. Naná Rizinni contou também com a participação especial de Jason Lindner, tecladista de Nova York reconhecido por seu trabalho com David Bowie e jazzistas como Donny McCaslin e Mark Guiliana. É um lançamento pelo selo de jazz e música brasileira Umbilical.
Em um disco tão belo quanto uma fritação cerebral causada por sintetizadores frenéticos, Naná Rizinni conseguiu levar o jazz a um outro lugar, onde tudo que ele tem de bom se mantém, porém com adição de excelentes camadas sonoras de diversas influências musicais.
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