Lançamentos resenha

O afrofuturismo e amefricanidade da mulher preta no novo disco da pernambucana Doralyce

“Dádiva” é um prisma musical que reflete várias vertentes da cultura afrofuturista, afrobrasilidades e amefricanidade. É rico, polido e, obviamente, dançante. Doralyce simplesmente entregou tudo neste disco.
Foto divulgação por Lil Oliveira

Dádiva” é o nome do terceiro disco da pernambucana Doralyce.        

A estética cultural do afrofuturismo elevado à potência sonora da terra efervescente de Pernambuco. Uma dádiva ouvir isso que ecoou nos meus fones de ouvido, é vívido e muitas vezes extremamente visceral. Desde o começo eu já estava entregue a riqueza de sons que englobam toda a construção das músicas. Simplesmente uma revolução de ancestralidade em cada elemento que ali, nas canções, estavam expostos. Com certeza nada foi acidental, para chegar aonde esse disco chegou, demandou estudo.

Em versos como “eu renasci, eu sou uma preta livre!”, Doralyce reforça a herança e muita da amefricanidade que Lélia Gonzalez tanto estudou por muitos anos. Expostas em rimas durante boa parte do álbum, as questões cantadas pela artista remetem bem há algumas passagens dos manuscritos de Lélia, como:

Ao reivindicar nossa diferença enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto, nosso lema deve ser: organização já!”

E uma das formas de organização e libertação passa também pela arte, e é com este instrumento que Doralyce usa suas palavras expressas nas canções da primeira metade do disco. Nesse contexto levantado, principalmente nas primeiras músicas de “Dádiva”, a cantora aprofunda em sua obra muitos ritmos que voltam naquele ponto inicial de afrofuturismo, são muitas camadas sonoras com muito beat, groove e percussão, além de elementos de funk, pagodão e trap. Obviamente você precisa ouvir com fones para sentir o peso do que está rolando no disco.

Ouça a canção Aeropurpurinada

Em uma outra esfera do disco, na perspectiva sobre a sexualidade, Doralyce traz em algumas músicas questões sobre ser mulher preta sapatão e estar no comando do seu próprio corpo e próprias decisões, não apenas sobre amar, mas também sarrar se quiser só sarrar, pois quando existe o pleno conhecimento sobre si e seus desejos, não há o que impeça de fazer o que quiser e quando quiser.

Dádiva” é tão bom que eu não consegui escolher uma música preferida, todas as canções podem ser a minha preferida, isso é um fato!

O Disco 

Capa do disco

Além do funk, pagodão e trap que falei antes, o álbum é tão rico musicalmente que também encontramos nele muito brega, brega funk, piseiro, rap e tantas outras coisas que se for citar tudo aqui vai ficar beeem extenso. Entre toda essa pororoca sonora temos participações fodas demais como Edgar, a brabíssima Luana Flores, Luê, Luísa Nascim, Preta Rara e muitos outros artistas talentosíssimos.

Dádiva” tem 13 canções ao todo e pouco mais de 40 minutos, que surpreendente passaram muito rápido, afinal, além de excelentes músicas, a escolha da ordem delas foi certeira. Doralyce foi contemplada pelo “Rumos Itaú Cultural 2019-2020” com seu projeto Dassalu – da desconolonização ao afrofuturismo, que visa ao lançamento de um manifesto e dois álbuns – “Dádiva” e “Dassalu”, previsto para o segundo semestre.

Dádiva” é um prisma musical que reflete várias vertentes da cultura afrofuturista, afrobrasilidades e amefricanidade. É rico, polido e, obviamente, dançante. Doralyce simplesmente entregou tudo neste disco.

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