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Em sua nona edição, Festival Sensacional mostra que ainda é tempo de comemorar e inovar

Confira o que rolou na edição 2022 do Festival Sensacional, que aconteceu no dia 02 de julho no Parque Municipal da Pampulha - em Belo Horizonte – sob os olhares de Yagho Szulik e Waguinho MPBDoll.
Foto do Festival Sensacional por Yagho Szulik

Por Yagho Szulik e Waguinho MPBDoll

No dia 2 de julho, o Parque Municipal da Pampulha recebeu a edição de 2022 do Festival Sensacional — e a escolha inovadora do espaço foi uma parte da coletânea de grandes acertos desse festival.

Claro que, quando se trata de um festival, as experiências são únicas, ainda mais quando o lineup é dividido em diferentes palcos com apresentações simultâneas (não foi nada fácil escolher entre Letrux e Don L ou entre Rachel Reis e Baco Exu do Blues). Vamos dividir, nessa matéria, como foi a nossa experiência no Sensacional (e também tentar dar vazão a essa saudade que não passa).

Chegando no parque, tivemos que passar por um portal que desembocava numa ponte e, logo depois, percorremos um longo caminho com uma vista belíssima da área do parque que não estava sendo utilizada pelo festival — era quase uma daquelas entradas mágicas em um jogo de Zelda. Não encontramos grandes filas, já que chegamos cedo no evento.

A decoração estava linda e havia muitas placas de sinalização, além de mapas espalhados pelo parque. Logo de cara, já nos deparamos com muitos caixas ambulantes, o que trouxe maior conforto e menor espera para o público. Logo na entrada, ao lado direito, já se encontrava o palco coreto, no qual a banda francesa Entrée Libre estava se apresentando. Várias pessoas aproveitaram que (ainda) não havia muita gente no espaço para estender cangas e assistir à apresentação do trio, que trazia um delicioso indie rock que agradaria a qualquer fã de The Strokes. A banda estava perceptivelmente feliz e animada por estar se apresentando no Brasil. Essa atração foi uma das parcerias do Festival Sensacional com a plataforma Groover, que também contou com o apoio do Consulado da França em São Paulo e da Aliança Francesa de Belo Horizonte para trazer os artistas.

Caminhando pelo Parque, nos deparamos com grandes bares bem espalhados, um paredão enorme de banheiros químicos que cobriam uma lateral inteira do festival, uma área de alimentação com muitas opções e o palco Masterplano, que não parou ao longo do dia todo, recebendo grandes nomes da música eletrônica belo-horizontina.

Aproveitamos para dar uma olhada nos palcos principais (naquele esquema de palcos gêmeos, colados um ao outro) e ficamos maravilhados com o espaço, que comportou muito bem todo o público. Outro fator que contribuiu bastante foi o relevo no entorno desses palcos: havia duas colinas, uma de cada lado da esplanada, que possibilitavam uma boa visibilidade dos shows para todos que preferiram, eventualmente, se sentar à distância.

Voltamos correndo ao palco Coreto, pois Gabi Farias era um dos nomes do lineup que mais queríamos ver. A vencedora do concurso Groover mostrou que a cena da música independente de Manaus carrega consigo muita potência e qualidade. Apresentando seu álbum Enchente (2022), Gabi cativou o público com suas lindas letras, bela voz e uma banda que sustentou muito bem o espetáculo da artista. Com certeza, foi um dos shows mais lindos do dia, por mais que estivesse praticamente abrindo os caminhos para o festival — era uma possibilidade antecipada de um mergulho na lírica, nos sentimentos e na doçura de Gabi, que transmitiu ao público seu entusiasmo por se apresentar após passar pelo (acertadíssimo) processo de curadoria do concurso do qual foi vencedora.

Foto da cantora Gabi Farias por Yagho Szulik

Caminhando de um palco para outro pelo festival, você se deparava com intervenções de blocos e fanfarras importantes para a cena carnavalesca de Belo Horizonte, como é o caso do Sagrada Profana, bloco formado só por mulheres, que nasceu em 2016 com o intuito de levar a luta feminista para a folia. Outro bloco que esteve presente no festival foi o Babadan Banda de Rua, que nasceu em 2018 como um projeto da incubadora AFRORMIGUEIRO e que tem, em seu repertório, releituras de grandes composições mineiras e brasileiras no geral, com ênfase em ritmos afro.

Por conta da nossa entrevista com a Gabi Farias (que vocês poderão conferir aqui no Polvo Manco muito em breve), perdemos o começo do show da Francisco, el Hombre, mas conseguimos sentir bem a energia da banda, capaz de fazer todo mundo pular e cantar numa grande festa animadíssima.

Antes do show da Liniker, tivemos a ilustríssima presença de Célia Xacriabá, mestra em desenvolvimento sustentável e doutoranda em Antropologia na UFMG, figura importantíssima da luta indígena em Minas Gerais e no Brasil, sendo a primeira mulher indígena a integrar a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais e pré-candidata a deputada federal por Minas Gerais. Célia declamou poemas, palavras de ordem e anunciou diversos artistas nos palcos principais ao longo do dia.

No palco ao lado, Liniker entregou um dos maiores shows do ano. Consagrando seu último álbum, Indigo Borboleta Anil (2021), a cantora contou com um entusiasmadíssimo público, cuja força ajudou a mostrar que a cantora deveria estar em muito mais lineups de festivais em 2022. Além de contar com uma super banda, com grandes nomes da música brasileira como, por exemplo, Serginho Machado (Plim) na bateria e Ana Karina Sebastião no baixo, o show teve a presença ilustre da convidada de honra Tulipa Ruiz, quem cantou ao lado da também gigantesca anfitriã canções como Víbora, Baby 95 (que, inclusive, é uma composição das duas com Tássia Reis e Mahmundi) e Proporcional.

Foto da cantora Liniker por Yagho Szulik

Um pouco mais tarde, foi a vez dos queridinhos de BH que estão conquistando o Brasil: Lamparina. Como sempre, o grupo deu uma grande festa que envolveu todo o público. Infelizmente, perdemos o encontro com a Biltre por conta do encontro de horário com a nossa entrevista com a Rachel Reis (que, em breve, vocês também vão poder conferir aqui no Polvo Manco).

O show da Letrux foi outro que, como sempre, mobilizou uma grande parcela do público, com sucessos do em Noite de Climão (2017), Aos Prantos (2019) e até alguns singles como Me Espera, parceria com o carioca Mulú. O ápice do show se deu quando a cantora começou a apresentar uma canção que geralmente não aparece em seus shows, Sente o Drama. Deu para sentir, no público, uma hesitação: até alguns dias antes do festival, a cantora Mahmundi estava confirmada enquanto participação no show de Letrux, mas, por conta de um problema de faringite, precisou cancelar sua aparição, substituída pela misteriosa aparição prometida pelo Festival Sensacional. E, de repente, Liniker (a participação oficial da canção nas plataformas) volta ao palco para essa música. Foi um espetáculo sem igual.

Corremos, então, para o show da dona do hit Maresia: Rachel Reis, uma das grandes apostas do pop brasileiro, com seu som swingado que flerta com muitos estilos musicais, mas principalmente o arrocha. Rachel apresentou tanto canções já presentes em seu EP Encosta (2021), quanto singles, canções que pretende lançar em seu próximo álbum e covers que conversam com o histórico e repertório da artista. O show foi incrível, mas identificamos a primeira crítica ao festival: o relevo do palco Coreto só serviu para os shows com pouco público, pois o coreto em si ficava numa área elevada e, quando os shows começaram a atrair um público maior, as pessoas que estavam no front impediam a visibilidade de quem estava no meio do público, sendo necessário ir muito para trás para conseguir enxergar alguma coisa.

Foto da cantora Rachel Reis por Yagho Szulik

No caminho para assistir o último show da noite, demos uma passadinha no palco Masterplano e fritamos um pouco ao som da dupla Deekapz, com deliciosos mashups que cruzaram décadas de músicas. Em poucos minutos ali, nos deparamos com remixes que misturavam nomes como Alcione, Montell Jordan, Beyoncé e até mesmo Kendrick Lamar.

Para encerrar, assistimos ao grande encerramento do festival com o histórico Olodum convidando o mestre Russo Passapusso, show no qual houve tanto as mais famosas do Olodum, quanto grandes hits do BaianaSystem, como Lucro. Foi engraçado ver, em algumas pessoas do público, a reação ao descobrir que certas canções conhecidas por interpretações de outros artistas eram do Oludom, como Várias Queixas.

Destacamos, aqui, os momentos mais altos do Festival e as grandes surpresas: o novíssimo nome Gabi Farias e a já aclamada diva do pop Rachel Reis, que brilharam no palco Coreto; estávamos ansiosos para ver ambas se apresentarem, mas, ainda assim, fomos surpreendidos pela potência de suas artes. É mais que válido, também, enfatizar os espetáculos que foram os shows da Liniker com participação de Tulipa Ruiz e, também, Letrux com a participação (quase improvisada) de Liniker.

O Festival provou ser um sonho daqueles que não queremos acordar, com um grande número de trabalhadores nos caixas, grandes balcões de bebida que evitaram filas, uma grande quantidade de banheiros, uma grande praça de alimentação com muitas opções, além do carinho e atenção com a imprensa — salinha com água e frutas à vontade, o que pode parecer o mínimo, mas, pelo relato de colegas de profissão, em alguns festivais, nem esse mínimo é atendido.

Acreditamos que se destacam apenas dois defeitos no festival:

1) o palco Coreto não comportou o público dos artistas que estavam mais para o fim do lineup. Presenciamos a dificuldade de assistir ao show da Rachel Reis, principalmente para quem estava no meio do público, e ouvimos relatos de amigos que foram ao show do Don L e não conseguiram assisti-lo, o que se repetiu no show do FBC. Chegamos à conclusão de que esse palco deveria ter sido montado em alguma outra área do parque, como por exemplo próximo ao Memorial da Imigração Japonesa, enquanto talvez o palco Masterplano ficasse no coreto.

2) A saída do parque após o show do Olodum: muitas pessoas tentando passar por um caminho estreito, com direito a empurra-empurra no meio da multidão e ainda uma galera obstruindo a passagem, já que queria tirar foto com o letreiro do festival na entrada.

Foto do Festival Sensacional II por Yagho Szulik

Ainda assim, mesmo com esse enfoque nos dois únicos defeitos que encontramos, não tem como compará-los à maravilha que foi o Festival Sensacional, que fez jus ao nome e, com certeza, foi o melhor do ano para o casal MPBDoll que vos fala. Vale a pena ressaltar que a comunicação do festival foi muito bem planejada, divulgando tanto os artistas maiores quanto menores, além de políticas de redução de danos com relação ao uso de drogas e uma grande preocupação com a locomoção daqueles que foram ao evento, com posts dando dicas de transporte, pontos para solicitar motoristas de aplicativos e inclusive fornecendo a possibilidade de um transporte da zona norte ao centro de BH por um preço acessível. O Sensacional mostrou que é possível, sim, realizar um evento bom para os dois lados, sem deixar de atender aos desejos do público que, no fim das contas, só busca conforto naquelas horas de entretenimento.

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