
Frequentador assíduo do Coala Festival desde 2016 (e sempre comprando ingresso na pré-venda sem lineup pois confio na curadoria), finalmente tive a oportunidade de participar do meu festival favorito com credenciamento de imprensa. Foi uma experiência bem interessante pois tive um olhar mais atento aos detalhes dos shows, mesmo assim consegui aproveitar como um fã de música brasileira e fã de muitos artistas que estavam ali no palco.
Infelizmente não consegui estar presente no primeiro dia de festival, sexta-feira, mas fui no sábado e domingo e adorei. Agora vou contar um pouquinho de cada show para vocês ficarem por dentro do que rolou. A já aproveito para deixar os agradecimentos às meninas da equipe da Trovoa Comunicação (Carol Pascoal, Gabi Cruz, Carol Buzatto e Stella Sanches), também agradeço a Lívia Mello, assim como a minha amiga maravilhosa Catarina Lopes que topou encarar a maratona de fotografar os shows para o Polvo Manco ❤
Bora pros shows!
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Sábado (17)
Rachel Reis – A melhor boas-vindas

Baiana de Feira de Santana, Rachel Reis é uma artista, inegavelmente, muito talentosa. Acompanho sua carreira desde 2020, quando apareceu aqui no Polvo Manco pela primeira vez, e fico feliz demais em vê-la ocupando palcos tão grandes de festivais.
Para conquistar o público que ainda não conhecia seu trabalho, Rachel esbanjou talento ao som de Alcione, com a canção “Você Me Vira a Cabeça”, as pessoas entraram no ritmo e se aproximaram mais do palco, porém, pertinho dele já estava repleto de fãs que chegaram bem cedo para cantar os maiores sucessos da artista. No repertório ainda teve canção inédita que saíra no próximo EP/Disco, também a faixa “Me Veja”, parceria com a cantora Illy, e “Pelo”, single lançado mês passado.
Nem o problema com a programação do notebook em uma das músicas abalou a apresentação, e logo na sequência Rachel Reis mandou uma versão de “Ando Meio Desligado” d’Os Mutantes com muito groove e boas batidas de pagodão baiano em alguns momentos. Fechou o show com “Maresia”, a grande música que levantou toda a galera e geral sabia cantar, um brega pop extremamente envolvente que colocou todo mundo pra dançar. Finalmente consegui ver um show de Rachel Reis e confesso que achei maravilhoso, muita simpatia e presença de palco da baiana que ainda vai conquistar muita gente por aí.
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Ana Frango Elétrico – A Simpatia

Este era um show que eu estava muito curioso para ver, afinal, a atmosfera das canções do disco “Little Electric Chicken Heart” não tinham uma cara de show de festival, porém estamos falando de Ana Frango Elétrico que, junto com um timaço (que, aliás, estavam todos uniformizados com camisas de clubes de futebol), transformaram as músicas e implementaram arranjos mais animados e versáteis do que no disco.
Com um naipe de metais impecável, além de Marcelo Callado, Vovô Bebê, Dora Morelenbaun e outros artistas incríveis compondo a banda, fizeram um set passando por toda a obra de Ana, desde “Roxo” até “Mulher Homem Bicho” – seu lançamento mais recente e com total cara de Rita Lee – que foi a derradeira do show ao lado do cantor carioca Joca, levantando ainda mais a galera.
Show foda pra caralho, bem diferente do que vi anos atrás no CCSP, antes mesmo de lançar seu último disco, quando a banda de apoio na ocasião foi da Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo.
Ana trouxe bastante público, visto que não faz muitos shows em São Paulo, e quem estava presente viu uma excelente performance. Quando não estava tocando guitarra, mostrou muita presença de palco circulando por todos os espaços, pedindo pra transmissão mostrar os músicos da sua banda que, sem eles, o show não seria tão incrível
Simplesmente todo mundo agitou no show, até quem não conhecia. Umas pessoas nos perguntaram quem era a artista, falamos Ana Frango Elétrico e a resposta foi: “Ana oq?”.
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Alceu Valença – O Chato

Subindo ao palco ainda sob sol quente e com arranjos bem rock and roll, Alceu Valença começou sua apresentação com o clássico “Pagode Russo” de Luiz Gonzaga. Tirou os óculos, trocou o chapéu e dominou ainda mais o palco. Puxou palmas do público e fez brincadeiras que tiraram algumas risadas dos espectadores, porém não me empolgou, piadas não são seu forte. E como de costume deu aquela típica chamada de atenção nos músicos da banda, algo que já presenciei ele fazendo em outros shows e também em lives, desnecessário fazer isso ao microfone, mas na hora que ele errou e perdeu o tempo da música fingiu que não aconteceu.
Anunciou indevidamente a canção “Flor de Tangerina”, mas aí era tarde, o público pediu pra tocar. Mas aquilo, errou mesmo ou truquezinho pra tentar ganhar ainda mais o público? Continuou com coisas já costumeiras em seus shows, contando histórias entre as músicas, ou até durante, e mais de suas brincadeiras de interação com o público (que o pessoal adorou), mas é algo que sempre achei bem chato e sem graça.
“Coração Bobo” e “Como Dois Animais” animaram muito a galera, e já na reta final com “Táxi Lunar”, “La Belle de Jour” e “Anunciação” o show encaminhou para um final apoteótico, mesmo eu estando na grade, era possível ouvir o público todo cantando.
No final das contas Alceu Valença falou e falou o show todo, passou do tempo limite, jogou pro público se queriam “Morena Tropicana” (galera quis, óbvio), a produção deixou para não desagradar ambos, porém esse tempo extra prejudicou outros artistas a seguir, festival tem cronograma e precisa se organizar, se tivesse falado menos teria sido melhor.
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BRIME – A Surpresa

Escolha acertada de colocar o grupo Brime antes do show do BK’, ao invés do já tradicional set de DJ. O grupo formado por FEBEM, CESRV e Fleezus mostrou muito flow, ótimas rimas e beats pesados, perto das caixas estava tremendo tudo, e mesmo assim o som estava ótimo, foi foda pra caralho, eu não conhecia grupo, mas já virei fã.
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BK’ – O Prejudicado

Depois de lançar três aclamados discos nos últimos anos, o rapper BK’ subiu pela primeira vez no palco do Coala Festival para mostrar toda sua potência. Eu não sou muito ligado na obra dele, muitos já me disseram que ele é excelente no palco e isso aumentou bastante minha expectativa.
Na primeira música, “Movimento”, o telão mostrava diversas personalidades pretas e indígenas que foram lideranças e referências, como Martin Luther King, Malcom X, Marielle Franco, Mestre Moa, Paulino Guajajara, Fred Hampton, Mariguella e outros, todos foram mortos por defender e fazer o bem.
Cheio de efeitos pirotécnicos, a apresentação foi correndo por um bom período com o microfone de BK’ bem baixo, demorou bastante para regularem, algumas vezes rolou até microfonia. Mesmo assim o rapper não desanimou e continuou seu set com músicas dos seus trabalhos anteriores, principalmente do último disco “O Líder em Movimento” (2020). A apresentação contou com a participação de Luccas Carlos, que, aliás, não estava preparado quando foi chamado ao palco, pegaram o cara desprevenido hahahhahaha
Infelizmente o show não empolgou uma parte do público, especificamente quem estava mais próximo ao palco, afinal era um monte de gente que chegou cedo para ver as duas últimas atrações. Até aí normal, porém o que mais tinha por ali eram pessoas conversando alto e até rodinha de gente sentada no chão durante todo o show. A empolgação de verdade com geral cantando ficou mais concentrada da metade pra trás, mas é nítido que BK’ entregou muito nesse show independente de problemas técnicos e da falta de “semancol” de pessoas que atrapalharam a vibe de outras que queria apreciar o show.
Além disso, fiquei com uma impressão muito grande que o show dele foi reduzido, talvez devido ao tempo extra que a apresentação do falante Alceu Valença teve.
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Bala Desejo – A Boitatázice

E novamente mais um show começando com o volume dos microfones bem baixo. Mais ou menos na metade da música “Lua Comanche”, que foi a primeira do show, o problema foi estabilizado, porém mais a frente teve algum outro microfone de captação dos instrumentos que estava falhando e cortando, algo quase imperceptível, mas que também foi resolvido.
Mas a energia da boitatázice do grupo contagiou mesmo assim. Com uma banda de apoio fantástica com instrumentistas impecáveis no naipe de metais e figurinos lindos dos quatro integrantes do Bala Desejo, foram fazendo um excelente show desde o começo. Aparentemente foi a atração mais esperada do dia, depois de Gal Costa, claro, mas a única realmente com fandom, histeria e gritos frequentes estavam por todos os lados, principalmente vindo de uma garota com aquele perfil que você já deve saber bem qual é.
Muito ritmo, música brasileira, música latina e tudo em uma atmosfera extremamente envolvente que encantou até quem não conhecia o grupo carioca. Além de tudo, o show ainda é muito rock and roll, o grupo tem extrema presença de palco, Dora Morelenbaum e Julia Mestre percorreram todo o palco correndo, pulando, dançando e não perderam o fôlego e afinação em momento algum.
Houveram outros problemas de som no decorrer do show, mas não chegaram a atrapalhar. Um outro grande destaque da apresentação é a performance do percussionista Daniel Conceição, simplesmente foda demais.
Final apoteótico e com certeza o show com a melhor vibe do dia (a minha vibe boitatá, no caso hahah).
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Gal Costa – A Honesta

Gal Costa nunca foi uma cantora que me empolgou, nunca fui de ouvir em casa. Fui para o show com expectativa alta, mas também preparado para me decepcionar completamente, era 8 ou 80. Na primeira música (“Fé Cega, Faca Amolada”) foi muito abaixo do que ela podia entregar, mas logo entrou nos trilhos e entregou um show maravilhoso que arrebatou a todos, muitos que, assim como eu, era a primeira vez que via essa grande cantora de perto.
O show atrasou 15 minutos, mesmo o palco estando todo pronto para começar no horário. Na banda de apoio apenas teclado, baixo e bateria, mesmo assim os músicos mandaram muito bem.
Toda música era um frenesi no público, ao meu redor jovens recém-saídos da adolescência – fervorosos cantando todas as canções – e entre eles um casal de mulheres quase na casa dos 40 anos completamente apaixonadas dançando coladinhas nos embalos das canções românticas que provavelmente, alguma delas, já fizeram parte de algum momento do casal.
Gal Costa entregou sua potência na voz, porém algumas vezes pediu palmas em horas estranhas que não combinavam com o andamento da música e ainda por cima, quando puxou elas, foi fora de ritmo.
A apresentação teve a participação de Rubel e Tim Bernardes, ambos artistas muito talentosos. O microfone de Rubel estava extremamente alto e com muito grave, diferente da maioria dos problemas frequentes com volume de microfone baixo, e ele ainda cantou com a boca no microfone. Tim Bernardes impecável e super afinado, cantou a “Negro Amor” ao lado de Gal, pra mim foi a melhor música do show. Os três ainda cantaram, juntos, “Tigresa” e “Baby”, que teve um novo arranjo de bossa nova que ficou incrível. Um coro imenso se formou quando Gal cantou “Um Dia de Domingo”, música que gravou ao lado de Tim Maia.
Gal Costa fez um show bom e entregou tudo o que pôde, apesar dos pesares, fiquei feliz por ter visto ela ao vivo pela primeira vez, meu infelizmente fica pelo fato dela não ter cantado as músicas “Motor” e “Não Identificado”, as duas que eu mais aguardei.
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Impressões da organização
Por mais que eu tivesse credencial de imprensa, acabei nem utilizando a sala de imprensa, fui direto para o palco acompanhar os shows. Aí está uma questão, essa edição do festival foi dividida nos dois lados do Memorial da América Latina (lados que são separados por uma passarela que passa por cima da avenida e liga os lados), a sala de imprensa ficou do lado oposto ao palco principal do evento, caso quiséssemos pegar água ou carregar o celular/bateria da câmera, era preciso atravessar para o outro lado, perdendo bastante tempo e até mesmo pedaços do show. Faltou pelo menos uma tenda de apoio à imprensa próximo ao palco principal, o que iria facilitar bastante, tanto para repórteres quanto para fotógrafos.
A distância entre a grade e o palco era bem pequena, por isso apenas fotógrafos/filmagens foram liberados este acesso, sempre apenas nas 3 primeiras músicas de cada show. Apesar de parecer estranho, foi uma decisão certa da organização, afinal muitas vezes esses profissionais acabam tumultuando e até atrapalhando a visão de quem fica na grade dos shows.
No primeiro show, Rachel Reis, tinha apenas 2 fotógrafos na área reservada, já no último, Gal Costa, havia dezenas querendo fotografar, achei extrema seletividade desses profissionais (ou apenas estavam recebendo ordens), mas enfim, todo artista ali naquele palco merece seu reconhecimento. Um exemplo é uma das reportagens da Globo News que, ao falar do festival, citou apenas os artistas famosos (Gal, Bethânia, Djavan, Alceu e Gil), como se não existisse nenhum outro.
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